Não vem este comentário a propósito da crise mas encaixa "que nem uma luva" em tal contexto. Quando pensei em deixar uma breve nota queria reforçar uma ideia que tenho procurado deixar clara no Facebook, o problema é que nesse espaço tudo é fugaz (a propósito nos últimos dias aquilo não tem andado bem. A ideia a que me refiro prende-se com esta tendência em "deusificar" o que temos de melhor e, contrariamente, tentar ocultar-se os aspectos mais controversos, questão que, aliás, assumi notória pertinência com o tema da água no concelho. Ao usar o termo "deusificação" refiro-me a uma certa obsessão por adorar tudo o que temos de patrimonial que não origine controvérsia pública, ou seja, exaltamos o bom e o belo, o tantas vezes esquecido, mas que se pode reivindicar como elemento identitário. Enquanto, como digo acima, tudo o que possa suscitar polémica varremos "para debaixo do tapete".

Já se cometeram erros, não vejo motivo para se ocultarem aspectos menos positivos, quando na verdade podem servir de exemplos tanto para a sensibilização das pessoas como dos poderes públicos. Encaro a vida em sociedade, à semelhança do trajecto pessoal, como um processo de aprendizagem, assim sendo, o que hoje é válido ou o chamado paradigma dominante, pode no passado não ter sido assim, mas isso faz parte do processo civilizacional. É como em ciência, recorre-se ao termo "à luz do conhecimento científico actual". Não aceito é que lancem tabus sobre um ou outro aspecto menos positivo, não sei se com menos, favorecer ou combater alguma conivência ou por mera vontade e se falar apenas do lado bom da vida.

Convém salientar, e neste caso a crise volta a ser um bom argumento, pode ser uma forma de estar na vida, pois exaltando as coisas boas esquecemos as agruras da vida. Certamente também tenho momentos é que só me apetece pensar em coisas boas, mas a vida tem várias dimensões, por conseguinte, deveremos reforçar uma perspectiva que aponte para o futuro e procure na divergência exaltar não o conflito mas sim a pluralidade de opiniões. Acredito que um país maduro é aquele que leva a debate todas as questões, mesmo as mais polémicas, sem receios, só assim avança, não se limita a ficar agarrado às sombras do passado.

publicado por José às 21:22