Não me quero envolver em qualquer iniciativa que a sociedade civil trave para impedir a instalação em Nelas de uma empresa dedicada ao tratamento dos resíduos de matadouros mas não deixo de manifestar a minha apreensão. Não me quero envolver, por um lado, por estar distante e, por outro lado, pelo facto da manipulação da informação se ter antecipado, pelo que, certamente, não vai parar, sobretudo num ano de eleições, nas quais não quero ter qualquer tipo de intervenção, pois a política partidária não me interessa absolutamente para nada.  Quanto à minha apreensão deriva:

I) do afastamento dos habitantes de Nelas em relação a este e outros problemas – referindo-me essencialmente aos habitantes da vila de Nelas, os quais sempre estiveram calados relativamente a qualquer assunto, como se nada fosse com eles, como se sabe é fora da vila que o concelho tem pulso. Sei que o afastamento (relativo) do Folhadal da futura fábrica gera desinteresse e que é difícil mobilizar as pessoas para causas comuns, sobretudo quando exigem presença pública, porém, deveremos pensar o concelho como um todo e, desse modo, ser solidários, até porque, se o cenário não for exactamente como é descrito vai afectar-nos a todos.

ii) a minha apreensão justifica-se igualmente pelo desconhecimento dos reais impactos e por ver apenas exposto os argumentos, positivos, das dezenas de empregos que essa unidade vai gerar, “ignorando” eventuais efeitos negativos, tanto na qualidade de vida, como na actividade económica, pois nada garante que, por exemplo, essa unidade não venha a ter impacto directo e imediato no turismo, oferecendo com uma mão dezenas de postos de trabalho mas retirando-os com a outra mão. Por tudo isto e outras coisas mais que se desconhece, o processo deve ser transparente e participado, o que nos deve implicar a nós enquanto cidadãos, pois a velha retórica do “eles é que sabem, eles é que têm os livros” não nos serve, é o nosso futuro e o da região que está em causa, como tal “lavar daí as mãos” pode significar que as estamos a sujar, pois nem ar nem água limpa poderemos ter mais.

Naturalmente o debate não se esgota nesta breve reflexão, são apenas algumas pistas, o que gostaria de ver era real interesse da parte de todos. Mas se, de uma forma geral, o desinteresse da população é enorme, pois como é típico só reage quando afectada, da parte do poder político fica-lhe bem, não por ser ano de eleições mas por ser essa a sua obrigação, esclarecer todos os pontos, não é decidir e depois levar o assunto a debate.

publicado por José às 17:08