Como todos sabem, 2005 vai ser um ano de eleições quase do princípio ao fim. Por conseguinte, a identificação de vários problemas existentes no concelho é uma tarefa que ganha maior ênfase, dada a possibilidade de se concretizar uma solução para alguns deles. Todos sabemos que perante a proximidade das eleições os políticos se apressam em fazer o que não fizeram durante o resto do mandato. Lanço estes desafios tendo presente que o garante da democracia não são apenas as eleições, onde o cidadão é chamado a “pronunciar-se”, o garante da democracia é também, ou sobretudo, o exercício da cidadania activa e empenhada, muito embora com várias limitações de carácter estrutural, com destaque para o grau de literacia. Convém reafirmar que não nutro qualquer simpatia política, não me interessa a política partidária.
Após estas palavras apresento em seguida alguns dos problemas que urge dar solução neste novo ano. Lamento não abranger todo o concelho, identifico o que me está mais próximo, é provável que deixe de fora questões prioritárias. Se cada um fizer um pequeno exercício poderemos no final obter uma lista pormenorizada de prioridades. Se ainda não estamos sequer preparados para idealizar um orçamento participativo, poderemos participar na gestão local em outros moldes – definindo a agenda de prioridades. Na impossibilidade de publicar fotografias sobre cada um dos pontos e na impossibilidade de ter todas as fotografias prontas em tempo útil optei por publicar apenas duas fotografias tiradas durante a pausa do último Verão, infelizmente sempre actuais. Esclareço que se trata de uma lista não rigorosa e não hierarquizada dos problemas identificados:

Tanque público de lavar roupa existente na estrada do Folhadal – Em jeito de complemento ao importante contributo deste nosso Planalto na apresentação dos fontanários do nosso concelho, identifico a situação de abandono que se verifica no tanque público existente na estrada velha do Folhadal como uma das prioridades dos poderes locais, câmara ou junta de freguesia, para os próximos meses. Estou convicto de que no momento, mesmo em boas condições, terá uma utilização diminuta, contudo faz parte da nossa história e reflecte o domínio da técnica sobre o sentido comunitário das vivências das nossas gentes. Mesmo que não venha a ter uso merece, pelo menos, que se cortem as silvas que cobrem os tanques. A fotografia mostra bem o estado de abandono a que chegou, não tarda nem a cobertura escapa.


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Arranjo do pavimento da estrada velha de Carvalhal Redondo e da via que circunda a vila de Nelas – Relativamente à necessidade de ser arranjado o pavimento da via que circunda a vila de Nelas já fiz referência pelo menos uma vez, será desta? Quanto à necessidade de recuperação do pavimento da estrada velha que liga a sede de concelho a Carvalhal Redondo nunca fiz referência, por isso aproveito esta oportunidade. Só porque um dia foi construída outra estrada tal não deve corresponder ao abandono da antiga, a qual neste momento, desculpem o termo, quase parece “um caminho de cabras”, dado o estado de degradação em determinados troços do percurso, com verdadeiras crateras, que com o Inverno se vão acentuar.

Recuperação paisagística da lixeira de Vale de Madeiros – Vários anos após os políticos terem ido às televisões anunciar o encerramento de todas as lixeiras do país, em Vale de Madeiros a antiga lixeira parece ainda estar activa. Uma verdadeira vergonha e um total desrespeito pelas populações. Além do mau aspecto e do mau cheiro constitui um foco de contaminação dos solos e das águas, ou seja, constitui um atentado à saúde pública. Será que alguém assume a responsabilidade? O momento eleitoral é importante para que se resolva definitivamente este problema, os políticos devem-nos isso. E as populações merecem todo o nosso respeito.

Recuperação paisagística da mina da Urgeiriça – Usada nos últimos meses como “motivo” para a luta pelo movimento que pretende restaurar o concelho de Canas de Senhorim a questão da mina da Urgeiriça é grave e merece toda a seriedade. Relembro que a recuperação da mina e das escombreiras vem do tempo do início do rastreio levado a cabo pelo Instituto Ricardo Jorge junto dos antigos trabalhadores. Não é uma benesse do momento. Além de todo esse trabalho é urgente que se faça um rastreio às populações vizinhas e se façam análises aos solos e às águas – incluindo as águas da barragem de Agueira – os resultados do primeiro estudo são suficientemente graves para que se façam outros estudos mais abrangentes. A questão da radioactividade tem sido encarada no país com alguma leviandade, ignorando os poderes políticos os efeitos nocivos sobre as populações. Pela minha parte, e penso que também pela vossa parte enquanto leitores e cidadãos atentos, desejo que 2005 contribua para uma mudança de práticas quanto a tão delicada questão, na nossa terra, na Cunha Baixa, em todo o país.

A divergência com a população de Canas de Senhorim – A minha opinião sobre a criação ou não do concelho de Canas de Senhorim é pública. O país não pode continuar a criar concelhos ao sabor dos interesses de determinado partido político ou de determinado grupo de pressão. Em vez de se criar mais concelhos deveremos ir rumo a aglomerados (ou a uma efectiva concretização da sempre adiada regionalização), podendo mesmo levar à extinção de alguns concelhos, atribuindo, em contrapartida, outras competências às freguesias. Esta é em traços gerais a minha opinião sobre a questão. Neste caso concreto, seja qual for a decisão dos políticos, relembro que as populações envolvidas e o movimento social gerado em prol da elevação de Canas a concelho recebe a minha admiração, pelo activismo e pela união na defesa dos interesses locais. Claro que não são perfeitos, têm cometido alguns excessos, sobretudo quando esquecem que afectam terceiros e quando esquecem que as instituições e as pessoas que as representam merecem outro tom. Entretanto, o silêncio mantido ao longo de todo o processo pela Câmara Municipal de Nelas e pelo seu Presidente apenas serve de motivo à desagregação do concelho. Em vez de procurar unir, separa, por passividade. Em 2005 a autarquia deveria, é o mínimo que dela se espera, procurar dialogar com as populações, representa-nos a todos e é essa uma das suas competências. Se assim não for as populações vão andar cada vez mais de costas voltadas.

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Protecção da vala existe na Rua da Vala – Durante muitos anos foi uma vala aberta onde as populações se abasteciam de água não potável para lavar roupa, regar as plantas, permitir a limpeza das habitações e para dar de beber a algum animal doméstico. Depois foi calcetada a Rua da Vala, chegou a água de abastecimento público e o saneamento básico. A velha mina deixou de ser um lugar de encontro diário nas madrugadas de Verão, em que mal chegava para as necessidades de todos, obrigando ao recurso a poços privados. Se outrora mereceu umas escadas e uma cobertura, deveria agora merecer alguma protecção na entrada capaz de evitar a entrada de alguma criança desprotegida. Basta uma pequena porta com ferros verticais e um trinco seguro. Outrora a ida frequente das populações à vala retirar água evitava o seu enchimento e evitava a aproximação das crianças. Agora a vala fica com água suficiente para constituir um perigo. E quase ninguém lá vai, o que aumenta o risco.

A aplicação de medidas de minimização da poluição do ar – Ao contrário do que os leitores possam pensar em momento algum me reconheço como um cego defensor do ambiente. Se é verdade que defendo a preservação dos valores ambientais, também é verdade que reconheço que sem desenvolvimento económico o país não progride. Em síntese, defendo, isso sim, um modelo de desenvolvimento económico que não coloque em causa valores ancestrais, nem a saúde pública – se quiserem, defendo um modelo de desenvolvimento designado como sustentável. Serve isto para dizer que, se o nosso concelho é um bom gerador de emprego é, talvez como contraponto, um potencial gerador de poluição, sobretudo, atmosférica. Em 2005 seria de todo desejável existir informação sobre as emissões para atmosfera e sobre a possibilidade de serem minimizados os efeitos e a imagem pouco atractiva que deixa da vila de Nelas. Não esquecer que estamos a escassos dias de ser implementado em Portugal e em grande parte do mundo o designado Protocolo de Quioto sobre alterações climáticas.

Prevenção dos incêndios florestais de Verão – O Inverno é o momento ideal para prevenir os incêndios de Verão, intervindo no planeamento, na gestão florestal e na escolha das espécies. Este é também o momento ideal para proceder à limpeza da floresta, à reflorestação das áreas ardidas e à melhoria dos acessos às matas. Por outro lado, este é igualmente o momento ideal para melhorar os equipamentos e as condições dos nossos bombeiros, devemos-lhe muito mais do que isso. Já agora pergunto: para quando a construção de um quartel que dignifique os nossos bombeiros? Refiro-me aos bombeiros de Nelas, naturalmente que todos os bombeiros do concelho merecem igual tratamento.

Construção da totalidade do passeio na Avenida António Monteiro – A actual principal via de acesso do Folhadal a Nelas, apesar do aspecto aparentemente requintado, sofre de um importante estrangulamento. Em parte do seu percurso esquece literalmente os peões – não possui o necessário passeio em nenhum dos lados, o que constitui um grave risco para a sua integridade física. Tanto as populações que não possuem automóvel, ou preferem andar a pé, como as que usam a via para mero lazer, ambas merecem que se concretize a parte do passeio em falta junto aos eucaliptos, nem se entende porque não fez parte da transformação da via em avenida.
Termino assim a apresentação de uma lista de várias prioridades a levar em conta pelos poderes públicos, não fui exaustivo pelos motivos que acima refiro. Outras temáticas refiro-as apenas como tópicos, são os casos: da falta ou do excesso de sinalética, de trânsito e restante (a propósito não sei porque motivo o edifício multiusos da autarquia ainda exibe no exterior a placa relativa à sua construção, não tarda cai de ferrugem); da renovação da página da Internet da autarquia e da activação efectiva da página da Biblioteca Municipal na Internet, de nada serve se não possibilitar pesquisa. Ficaria feliz se alguns destes exemplos estivessem desactualizados no momento da publicação deste artigo, todos sabemos que será pouco provável. Desejo a todos os leitores e amigos um FELIZ ANO de 2005.

José Gomes Ferreira
publicado por José às 09:57