Sensivelmente durante as últimas duas décadas alguns termos usados com especial incidência na nossa terra e na nossa região foram sendo progressivamente substituídos pelos termos mais usados no país. Embora lançando nesta fase meros exemplos creio que poderemos em conjunto constituir como que um mini-dicionário, para que as gerações mais jovens e as que virão conheçam as tradições dos seus antepassados. Sempre que possível devem ser termos só da nossa região, mas como sabem muitos deles têm uso também fora dela.

Para já lembrei das seguintes:

Abelhão - o mesmo que vespa.

Abrunhos - o mesmo que ameixas, sendo que o que se designa como ameixas é um fruto distinto, ao contrário do primeiro não é redondo e é colhido em Setembro/Outubro.

Acartar - transportar algo de um lado para o outro, tradicionalmente no caso dos homens às costas e no caso das mulheres à cabeça.

Acoitar - o mesmo que proteger da chuva.

Afolar - provavelmente tem origem no termo folar, usado em muitas regiões para designar um tipo de bolo de Páscoa, na nossa terra tem outro significado, afolar é a prenda que os padrinhos dão aos afilhados na Páscoa.

Aguçadoira - o mesmo que afia. Noutras regiões refere-se igualmente à pedra para afiar facas.

Alguidar - o mesmo que bacia, recipiente usado na cozinha, por vezes também designado por taça. O termo também se aplica ao recipiente antes utilizado para lavar as mãos.

Alimentar pançudos - não estar para alimentar pançudos significa não estar para dar lucros a quem não precisa.

Asnear - O mesmo que portar-se mal. Estar a asnear significa estar a sair fora do previsto ou estar a fazer asneiras.

Baeta - o mesmo que barbeiro/cabeleireiro de homens.

Bácaro - o mesmo que porco.

Barbeiro - estar um grande barbeiro significa estar muito frio.

Borralha - termo conhecido pela referência à Gata Borralheira, significa pois o mesmo que cinza.

Bucha (comer a/ir à) - o mesmo que lanchar, embora por vezes aplicado a todas as refeições. Refere-se também a alguém obeso.

Bufar - o mesmo que soprar.

Cabaço - se em alguns locais significa o mesmo que cabaço por cá tem ainda outros dois significados: 1. objecto metálico semelhante a um pequeno balde de zinco com um cabo de madeira atravessado usado para retirar água de poços menos profundos 2. o mesmo que "levar uma tampa" de alguém com quem se desejaria namorar.

Caçoila - o equivalente a um tacho mas de barro e para usar na lareira, normalmente colocado em cima de umas trempes.

Capa - o mesmo que dossier ou então uma capa para proteger da chuva.

Caibro - o mesmo que barrote.

Caruma - agulhas dos pinheiros.

Cavaleiro - o mesmo que picota, engenho com origem árabe para elevar a água: na nossa terra a base pode ser de granito ou madeira, essa base sustentava um tronco de madeira, que na extremidade externa ao poço tinha um contrapeso e na extremidade que dava para o poço um vara comprida de modo a aceder a toda a profundidade do poço, com um gancho na ponta para pendurar o balde, o qual poderia ser de madeira.

Cavalete - ao cavalete também se chama burra,  trata-se do equivalente a duas cruzes na extremidade de dois conjuntos de barrotes que após serem fixos a cerca de 1 metro de distância, por cerca de 1 metro de altura, servem para colocar rolos, de pinheiro ou outra árvore, para assim serem cortados mais facilmente.

Ceitoira - com a Revolução de Abril a ceitoira era afinal uma foice e o que chamávamos foice era também conhecido por gadanha.

Chá da meia noite - dar a alguém o chá da meia noite é o mesmo que envenenar.

Charrueco - pequena charrua normalmente puxada por um/a burro/a.

Costilos - pequenas armadilhas de arame que com um isco (azeitona, "bicha" do milho...) servem para apanhar pássaros, muito usados durante nos meses de Julho e Agosto próximo do milho pronto a colher para apanhar tralhões.

Cura (andar ou fazer) - Andar ou fazer a cura significa andar a pulverizar as videiras.

Dejuar - termo praticamente contrário a jejuar, refere-se ao pequeno almoço ou a uma pequena refeição antes deste, também conhecido por dejuadoiro e por mata-bicho.

Encher a pança, odre, bandunho - alguém que só pensa encher a pança, o odre ou o bandunho apesar das referências à alimentação é genericamente alguém que só pensa em si.

Encherga - o mesmo que colchão e especificamente a um colchão de pano cheio de palha centeia. Fica a dúvida quanto à ortografia, contudo enxerga refere-se à visão.

Escanevadas (de Abril) - termo normalmente utilizado para descrever a queda de chuva no início da Primavera e que por isso intercala aguaceiros com sol radioso quase de forma imprevisivel.

Esparrela (cair na) - cair na esparrela é o mesmo que cair na jogada, ser enganado.

Estar de morto - diz-se d eum terreno que está por cultivar.

Fasca - ao malhar o milho com uma debulhadora mecânica solta-se a película fina que envolve cada grão, uma vez que está seca e se solta aos milhares produz uma espécie de almofada que o povo usava exactamente para encher as almofadas, à semelhança do colchão, neste caso  era cheio com palha de centeio, tudo era natural e reciclável.

Farpela - referência ao vestuário com aspecto mais janota.

Fona - andar numa fona significa andar numa grande agitação, ter muitas coisas para fazer, equivalerá em termos populares ao andar em stress, embora aquele stress dito bom.

Forro - termo que designa, por exemplo, forro do casaco, e serve igualmente para designar sotão da casa, onde normalmente se guardavam as batatas.

Fragoeiro - vara normalmente usada para mexer as brasas no forno onde se cozia (e por vezes ainda coze) o pão (a broa).

Galhos - ramos de uma árvore.

Gamela - utensílio usado para transportar, por ex., o pão após sair do forno, uvas, hortaliças ou lenha, feito integralmente de madeira, com cerca de de 1m de comprimento.

Gesta (ou giesta) maia - de cor amarela usada no dia 1 de Maio para pendurar à entrada de casa para afastar a fome  e trazer boas colheitas (a cor amarela simboliza a fome).

Lambão - diz de alguém que é preguiçoso.

Lameiro - terreno com muita abundância de água, parcialmente inundado no inverno, o que permite o crescimento de erva tenra para o gado.

Lampeiro - lampeiro ou ter a mão lampeira diz-se de alguém que gosta dos bens alheios.

Larica - erva que por vezes se encontra no meio do centeio. Estar com larica significa igualmente estar com fome

Lavadoiro - normalmente um tanque público associado a uma nascente onde as mulheres lavavam a roupa, agora praticamente sem uso.

Lavagem - diz-se da comida que se dá aos porcos e que se colocava na pia, normalmente feita de granito ou madeira.

Loja - Geralmente significa o mesmo que adega, neste caso normalmente situada no piso térreo da habitação. Servia para guardar, além do vinho, as alfaias agrícolas, os cereais, parte das batatas e serve de apoio à casa.

Maceira - móvel de cozinha tradicional composto por duas partes: a parte inferior é normalmente usada para guardar as mercearias de uso corrente na cozinha, a parte superior tem uma tampa que uma vez aberta dá acesso a uma área ampla, com cerca de 30 cm de profundidade, onde era amassado o pão e onde levedava.

Manco - diz-se de alguém coxo, mas também se aplica a um banco desequilibrado ou a uma mesa

Maquia - termo usado actualmente como referência a determinado valor monetário, referia-se mais a determinada quantidade de farinha na transacção com o moleiro.

Marmita - o equivalente a termo, recipiente usado pelos trabalhadores para levarem o almoço.

Marosca - fazer alguma marosca significa o mesmo que alguma maldade, o mesmo que trafulhice.

Marreco - o mesmo que pato.

Marreca - tem dois significados: 1. o mesmo que pata, 2. alguém com uma corcunda.

Moquir - ir moquir é um regionalismo que significa o mesmo que comer ou em termos populares ir marfar.

Olho fino e pé ligeiro - conselho que se dá para que outrem tenha cuidado, para estar alerta.

Pantomineiro - diz-se de alguém que tem uma vida vadia, irresponsável.

Palheira - casa para guardar palha e algumas alfaias agrícolas geralmente existente fora do núcleo urbano, de apoio às tarefas agrícolas nas propriedades.

Palheta (estar ou ficar na) - o mesmo que ficar ou estar na conversa.

Partir pedra (ir) -  ir partir pedra ou partir cascalho é o mesmo que ir dormir, aliás quando alguém dorme profundamente também se diz que dorme como uma pedra.

Peneira - objecto usado para peneirar farinha, ou seja, separar algum farelo da farinha.

Peneirento - diz-se de alguém que é vaidoso.

Pia - recipiente normalmente de granito, por vezes de madeira, onde se colocava a comida do porco.

Piqueta - o mesmo que lanche a meio da manhã.

Poça - feminino de poço, mas com características diferentes, na verdade trata-se de um pequeno dique geralmente próximo de uma pequena nascente. Poça é também um pequeno charco feito pela acumulação de água normalmente após queda de precipitação.

Pranheira - parte superior da lareira usada por vezes para colocar objectos decorativas e por baixo da qual eram colocados os enchidos.

Pucaro - refere-se tanto ao recipiente usado na lareira por exemplo para ferver água, normalmente de pequenas dimensões, como ao recipiente suspenso na base dos pinheiros e usado na actividade resineira.

Quelha - referência usada em termos urbanos para designar uma rua estreita serve na nossa terra para designar cada uma das parcelas dos terrenos agrícolas, normalmente em socalco.

Ráfia - o mesmo que piteira, planta cujas folhas servem para fazer a ampa (vinha), sendo também usada para atar palha, erva...

Rodilha - resto de pano ou feita folhas de piteira enrolado que servia para atenuar a pressão da carga transportada pelas mulheres à cabeça.

Salvar - Salvar alguém significa cumprimentar por exemplo com votos de Bom dia.

Salgadeira - o equivalente a uma arca de madeira usada na salga do porco após a matança, onde também se conservavam ovos.

Salta rostos - animal da classe dos répteis conhecido no resto do país pela designação de osga.

Saraiva - o mesmo que granizo.

Sei o que a escola gasta - expressão significa "a mim não me enganas tu, já te conheço bem".

Sem espinhas - diz-se de uma tarefa que não tem qualquer problema em realizar-se

Sobrado - separação em madeira entre os pisos de uma casa antes do cimento se generalizar.
Sombreiro - o mesmo que guarda-chuva ou chapéu de chuva e que outrora tinha mais uso que estes últimos, o termo terá porventura origem no termo castelhano sombrero.

Taleiga - segundo alguns dicionários é uma medida antiga de azeite e trigo), na região refere-se a um pequeno saco de farinha.

Tantas vezes a cântara vai à fonte que por lá fica - por analogia com os/as cântara(o)s de barro que se partiam facilmente a expressão significa genericamente que tudo pode acontecer, apesar de alguma teimosia.

Tocar arpa - dizia-se de alguém que passava fome.

Traela - utensílio agrícola usualmente utilizado para malhar cereais, conhecido noutras regiões por malho (não sei ao certo se a ortografia está correcta).

Trempes - base metálica com 3 ou 4 "pernas" onde se colocavam tachos e caçoilas ao lume.

Troca-tintas - o mesmo que aldrabão, sendo por vezes o termo substituído por trapaceiro, nomeadamente que alguém se refere a outrem em caso de negócios.

Trunfa - ter uma grande trunfa é ter uma grande cabeleira, o mesmo que lanzudo, por vezes é ainda utilizado o termo repa, termos mais aplicados aos homens.

Verdugo - macho da cobra.

....a lista é para continuar, se se lembrarem de alguma digam.

 

Normas de citação: caso utilizem esta proposta de dicionário é favor citarem autor e título, pese embora o facto de ser uma descrição de memória merece tal referência: José Gomes Ferreira, in blog do Folhadal http://folhadal.blogs.sapo.pt/

publicado por José às 14:50