Independentemente da fé de cada um a Semana Santa e a Páscoa em si sempre foram vividas de forma intensa pelas nossas gentes, aliás, muitas destas vivências ultrapassam a esfera religiosa, embora com o objectivo principal seja sempre o da celebração da Páscoa. Agora tudo se esgota num ocasional regresso de familiares e amigos, regra geral em fuga das grandes cidades aproveitando os dias de descanso extra.
Outrora a imagem era de colorido frenesim. Recordo os momentos passados junto ao forno de uso comunitário, onde se agitavam mulheres e crianças na preparação da broa e, sobretudo, do pão-de-ló que depois iria acompanhar na mesa da bênção da cruz ao lado do queijo da serra, adivinhando o saboroso entrelaçado seguinte. Ente alguidares, formas, ovos, farinha, açúcar, cumpria-se um ritual de uso do forno que, embora privado tinha uso comunitário, mas também um ritual em que fornada após fornada se apreciava o que saia e se ajudava na fornada seguinte. Era um mundo de mulheres que nessa semana deixa para trás a vida duro do campo, era também um mundo de crianças, sempre prontas a tomar conta das pequenas sobras dos alguidares.
Antes ou depois da tarde passada em redor do forno a Semana Santa tinha outro ritual, este realizado entre portas. As mesmas mulheres guardariam um dia para se dedicarem à limpeza da casa, não que durante o resto do ano não o fizessem, merecia cuidados especiais na celebração em causa. Na segunda-feira seguinte iria receber a cruz, mas também a família que tinha vindo já na Páscoa anterior, sem esquecer por vezes os vizinhos e os amigos. Sem esquecer a procissão de terça-feira, durante a qual ou após a qual se voltavam a reunir em redor da mesa para saborearem o pão-de-ló e o queijo da serra. Adicionalmente, no final da tarde e durante a noite os bailes das festas da Páscoa organizados pela Associação enchiam a nossa terra de gente. Tenho ainda na memória a imagem, sobretudo das mães, a fitarem com o olhar os interessados nas suas filhas, apesar de tudo isso muitos namoros parecem ter tido início nessas festividades. Infelizmente tudo isto agora não passam de memórias, embora fosse indispensável preservar muitas destas tradições. Votos de Boa Páscoa.
publicado por José às 12:30