Sei que o povo tem o bravio feitio de desdenhar, dedicando-se ao que deveria ser um pecado capital - a bisbilhotice. Também sei que esse mesmo povo só fala se não tiver de agir, caso contrário foge cada elemento para seu lado.
Mesmo sabendo tudo isso, ou por saber tudo isso, deixo aqui duas breves notas (preocupantes) que ocupam muitas conversas de Verão na nossa terra.

1. O triunfo do compadrio?
Sem dúvida que um dos temas mais picantes deste Verão, alimentado ou não pelo boato, tem como alvo o poder local e os grupos de interesse que em redor deste gravitam. Não falo sobre o que não sei, o que o povo diz é que fulano/a que trabalhava em determinado local, ou não trabalhava de todo, passou a fazer parte do pessoal ao serviço da autarquia, não por reconhecida competência, mas por alguém próximo fazer parte dos aparelhos dos partidos que têm a maioria. Naturalmente que não ponto nomes, nem essa questão é do meu interesse, o que importa é que esses casos, a existirem, sejam transparentes. Eu apenas sintetizo boatos, mas uma coisa é certa, muitos eleitores sentem-se hoje profundamente arrependidos, pois em vez de sorrirem estão a passar por mais do mesmo. Pior ainda, já se fala num clima de tensão, onde parece ser perigoso levantar a voz contra.
Sempre fui adepto do diálogo e do exercício do poder partilhado com a comunidade, deixando de lado a questão dos boatos, é importante que também no nosso concelho o poder não seja exercido como expressão do domínio de uma facção sobre a maioria, pois, se por um lado foi a maioria que elegeu essa facção, também é verdade que o exercício da política serve a comunidade e não grupos de interesse. A beleza da política, para quem gosta, está na dedicação a causas comuns, não deve, pelo contrário, servir interesses de grupos, ainda que cada grupo possa e deva manifestar-se face a outros. De despotismo está o país farto.


2. A suspensão da edição do Planalto
Uma das notícias que mais doem este Verão diz respeito à suspensão ou mesmo óbito do nosso Planalto. Por mais defeitos que tenha tido até agora era a voz da nossa terra um pouco por todo o mundo. Se era importante para os locais, ao ser um retrato da sua vida quotidiana, era igualmente importante para quem estava longe, que através do Planalto se sentia fazer, ainda, parte desta comunidade beirã, alimentando através do jornal as suas memórias e as suas raízes.
Com o encerramento do Planalto perde-se o símbolo de uma região e uma herança transmitida entre gerações, ao mesmo tempo que se cala a única voz capaz de alguma isenção, até porque a rádio de local nada tem, apenas a publicidade.

Sem o nosso Planalto:
Nunca mais iremos saber que famílias vivem o seu luto e que famílias vivem a sua festa.
Nunca mais iremos saber o ritmo das sementeiras e das colheitas, nem que águas palmilham os ribeiros.
Nunca mais iremos saber a que santo ou santa deveremos dirigir as nossas preces, nem o calendário das procissões.
Assim se perde parte significativa do nosso testemunho histórico e parte da nossa existência presente. Assim seremos uma comunidade sem memória viva e sem debate de ideias, pelo que iremos cair no marasmo e no desejo da opressão.
Para evitar tudo isto e muito mais, não deixo de apelar ao Sr. Padre para que reconsidere, para que escute a nossa voz e leve em conta os anseios das nossas gentes, contando para isso com o apoio de muitos de nós.

José Gomes Ferreira
publicado por José às 12:21