Caros leitores! A maioria das minhas intervenções no nosso Planalto tem procurado catapultar itinerários da imensa memória colectiva do nosso povo para novas vivências, novas formas de viver e de sentir o que os nossos antepassados outrora viveram, procurando por essa via alertar para a perda dos quotidianos anónimos e para a perda de significação do que de mais simples no rodeia. Apesar do testemunho que fica pergunto-me muitas vezes se esse meu prazer de me dar através das paisagens de palavras, rostos, personagens, figurantes e cenas de uma dramaturgia rural e beirã, alcançará vozes não remetidas ao
silêncio.
Desculpem-me os mais directamente envolvidos mas, neste breve artigo, procuro basicamente lançar um alerta, em causa está o não funcionamento das nossas fontes públicas. Nas principais capitais europeias os técnicos em saúde pública e em protecção civil alertam para a necessidade das bicas e fontanários públicos estarem em perfeitas condições de serem utilizadas, porque é tradição as populações fazerem uso destas fontes e porque constituem uma importante alternativa no abastecimento público de água em situações de catástrofe. Por isso aconselham os responsáveis políticos a levarem a cabo as medidas necessárias ao seu funcionamento em condições que não comportem riscos para a Saúde Pública. Amigos! Será que na nossa terra esses argumentos não são suficientemente fortes? Tomo aqui, como podem ver pelas fotografias, uma das fontes do nosso concelho, que eu conheço desde que me conheço a mim mesmo, localiza-se no Folhadal, na Rua da Vala, mas poderia localizar-se em outra localidade e em outra rua, este não deve ser um exemplo único, infelizmente.
Pendurada na torneira a placa assinala "Água imprópria para consumo", ao que parece devido a contaminações nas canalizações com efluentes líquidos particulares, no entanto, muitas são as vozes que afirmam que o problema surge logo nas próprias nascentes. Não deixo de estar preocupado! Nem sei se a ordem expressa na placa é cumprida, sabemos todos que a tradição cria por vezes resistências, é assim bem possível que algumas das pessoas continuem a consumir esta água em detrimento da água que recebem nas suas casas distribuída pela rede pública. É igualmente possível que algumas das pessoas retirem esta água para os seus animais, consumindo-a então indirectamente, pois estão no topo da cadeia alimentar. Embora não seja um perito nestas matérias outra questão me preocupa, a das próprias canalizações no caso de serem de chumbo (as antigas canalizações eram em chumbo). Sabe-se agora que este material evidencia algum risco para a Saúde Pública, reduzindo nomeadamente o desempenho intelectual das crianças.
Sem assumir para mim qualquer interesse particular, pois o meu único objectivo é a produção de uma narrativa capaz de contribuir para a promoção do "bem comum" das nossas gentes, expresso aqui às autoridades competentes a minha preocupação, no que aproveito para solicitar junto destas que discutam, preferencialmente em conjunto com as populações, o futuro destes fontanários, nos tópicos propostos: o respeito pelas tradições, os riscos para a Saúde Pública e o equacionar de um abastecimento alternativo de água em situações de catástrofe. Estou certo que as minhas palavras vão ser devidamente ponderadas.
Obrigado!

José Gomes Ferreira
publicado por José às 11:23