Tal como referi no texto anterior não me chocaria tal encerramento. Aliás, o problema a colocar-se não se situa aí. Na verdade estamos em perspectiva de dois problemas, dependendo o segundo da decisão sobre o primeiro. Primeiro problema: o Apeadeiro e a passagem de nível que de algum modo faz parte deles constituem um grave risco para as populações que necessitam de atravessar diariamente a Linha da Beira Alta, sobretudo porque não possui guarda (a passagem de nível com guarda existente a oeste foi encerrada sem na altura quem quer que fosse tivesse como preocupação qualquer alternativa), nem possui cancelas de sinalização (na hora da desgraça um simples “Pare, escute e olhe” de pouco serve). Ciente deste problema, aproveitando porventura para “rentabilizar” os percursos, a CP pretende “matar dois coelhos com apenas uma cajadada” – encerrando ao mesmo tempo o Apeadeiro e a passagem de nível. Segundo problema: caso a opção tomada pela CP não contemple qualquer alternativa à actual passagem de nível estaremos perante uma grave afronta aos anseios da população, sobretudo de todos aqueles que habitam a norte da Linha, mas também os que lá possuem propriedade, pois vão ser privados de uma via de acesso ao Folhadal e às propriedades.
Foi consciente desses dois problemas que defendi no artigo com o título “Ganham-se avenidas, perdem-se pinhais”, publicado no nosso Planalto no final do ano anterior, a tomada de consciência da população para as decisões que podem vir a ser tomadas sem que essa mesma população venha a intervir. Seja qual for a decisão a tomar pelas entidades com jurisdição na matéria deverá necessariamente resultar não apenas de decisões técnicas, que mesmo assim devem ser sucintamente explicadas a todos nós, como deve respeitar a vontade do povo. Para o efeito, o mesmo povo deve pronunciar-se e deixar de uma vez por todos de permanecer na sombra, evitando que quando despertar o mal esteja feito. No final, seja qual for a decisão, naturalmente que a segurança de todos aqueles que atravessam a linha está em primeiro lugar, quer no presente momento, em risco constante, quer num momento futuro.
No artigo em referência defendi o recurso a técnicas de protesto activas e “populares”. Se bem se recordam (quem não se recordar pode reler aqui neste blog o dito texto), sugeri o corte simbólico da Linha de comboio, uma decisão já colocada em prática em diversas manifestações e que tem revelado ser principalmente uma chamariz para as televisões. Em momento algum defendo um corte concreto da Linha, pois afecta quase sempre quem nada tem a ver com o assunto. Convém frisar que se trata de uma iniciativa que coloca em causa o estado de direito, facto que pode trazer amargos de boca. Por conseguinte, se algum dia o povo decidir unir-se em prol de uma causa que é sua terá de repensar o seu uso, mas a imaginação pode contornar todos esses problemas: sugiro o uso de uma fita de plástico ou outro material a atravessar a Linha de um lado ao outro ligeiramente elevada, dando a ideia de o comboio estar a “cortar a meta”, desde que as pessoas estejam presentes para mostrar que estão unidas e que a decisão a tomar também lhe diz respeito. O que se espera dos decisores políticos é que não deixem chegar a essa situação, que informem a população e procurem junta dela uma solução que agrade a todos.
publicado por José às 09:42