Recupero um antigo artigo meu alusivo ao acumular de entulhos e outros resíduos no campo de tiro localizado na Estrada da Felgueira para voltar a falar sobre esta grave questão no nosso concelho. Reproduzo através destas linhas e destas imagens não apenas a reacção da altura, de que o título é um símbolo e a fotografia seguinte é um testemunho, mas a infeliz imutabilidade das consciências perante a necessidade de se cuidar do que é nosso e de se respeitar os outros. Certamente que não vou aqui limitar-me a transcrever o anterior registo, quem se der ao trabalho de recuperar o artigo neste nosso jornal pode facilmente relembrar esse instante, ou então bastará perder uns minutos na Internet e procurar no blog que dedico ao nosso Folhadal.
É com mágoa que verificamos que durante estes anos todos nada mudou, pelo contrário, as pessoas continuam de costas voltadas para a defesa do bem comum e os responsáveis políticos continuam a fechar os olhos às infracções, isto quando não são os seus serviços a “facilitar” essas infracções. A fotografia seguinte foi tirada no final de Junho deste ano de 2005. Como podem ver refere-se à entrada do campo de tiro, onde se pode ver a placa inicialmente lá colocada e um pequeno poste metálico que sustentava uma corrente de um lado ao outro da entrada, o que impedia os potenciais infractores de fazerem eventuais vazamentos de lixos, ou pelo menos afastava-os.

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A fotografia não é clara, pois o objectivo foi apresentar na íntegra os elementos que se destacam logo à entrada do campo de tiro, onde a corrente desapareceu, o gancho que a suportava surge aberto, porventura num acto de puro vandalismo. Como agravante parece que alguém não perdeu tempo, já se podem ver pequenos montes de entulho. Seria bom se no momento em que for publicado este meu artigo a situação tivesse já sido reposta, tendo em conta que vão entretanto decorrer as festas da vila, o que pode implicar o uso do espaço. Seja como for, se não forem tomadas medidas tudo se repetirá mais tarde ou mais cedo. Infelizmente a dita Estrada da Felgueira é em partes do seu percurso um enorme vazadouro de entulho, em locais perfeitamente visíveis e rapidamente identificáveis, resultado de atitudes de uma insolência sem limites e uma falta de respeito atroz por parte de alguns.
Como tenho dito e repetido por diversas vezes, situações como esta têm, na minha modesta opinião, pelo menos duas soluções: 1.ª organização de uma forte campanha de informação por parte da autarquia junto das populações onde fiquem bem claros os destinos a dar a estes resíduos; 2.ª se a primeira solução não bastar existe sempre a possibilidade de aplicar multas exemplares. O problema é que de momento estas alternativas não podem ser aplicadas pela autarquia, pode até ter autoridade para o fazer, não tem é legitimidade, como veremos seguidamente.

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Embora tenha implicado um esforço adicional da minha parte dei-me ao trabalho de verificar em que estado se encontra a antiga lixeira de Vale de Madeiros. Agora que os lixos que produzimos todos os dias têm um destino único importava verificar com os meus próprios olhos qual a situação da antiga lixeira. Sabem que cuidados tem merecido? Nenhuns. A lixeira nunca foi devidamente selada, nem tão pouco mereceu a devida requalificação paisagística – uma situação que responsabiliza igualmente o poder central. Será que alguém será capaz de levantar o braço para dizer “Culpado!”. Chamam a isto respeito pelas populações? Quais populações? Relembro que o concelho não é apenas a vila de Nelas (nem o país é apenas Lisboa).
Escolhi uma fotografia específica pelo simples facto do país viver uma situação climática de extrema gravidade, o que aumenta o risco de incêndios. Imaginem os leitores este rastilho logo ali à soleira das suas portas. Sei que o rastilho é serpenteado com entulhos de obras (diria, resmas de entulhos), mas não me parece que sirvam de barreira à nossa indiferença. Não nos bastam os cães vadios a remexer tudo aquilo, corremos o risco das chamas não deixarem nem um resto de tijolo, ou as molas de um velho colchão ou seja o que for que se deite fora logo ali, esquecendo que existem locais indicados para o fazer. É mais do que tempo de cada um de nós assumir que não vive só neste planeta, nem pode fazer dele o que lhe apetece. É tempo de dizer: BASTA!
Sei que as minhas palavras não mudam antigas práticas, nem mentalidades imutáveis, ainda assim aqui deixo mais este alerta neste nosso Planalto. E faço-o consciente de que tenho como pano de fundo o combate político que já se sente e culminará com as próximas eleições autárquicas, da qual esperamos naturais mudanças. Como a minha luta não é a política volto a exemplificar com pequenas questões locais, sem qualquer intuito de ser eu a intervir nesse espaço do político, muito menos com a presunção de estar a produzir uma sociologia do quotidiano e muito menos de ser o único realmente interessado no futuro da nossa terra. Esta deve ser uma causa de todos e não uma mera obsessão minha. Aproveito para solicitar às elites da nossa terra para que assumam a sua responsabilidade social, uma responsabilidade da qual se têm genericamente furtado, como que deixando as pequenas lutas para os “peões” e como que esperando pelo momento certo para intervirem. É tempo de mostrarem que estão activas e que são apenas iguais.
Apesar deste relato negativo sobre uma situação muito grave para a imagem do concelho e em alguns casos com diversos riscos associados – saúde pública, de incêndio, entre outros – mesmo assim não quero perder a esperança. Tenho esperança que um dia surja uma dinâmica capaz de transformar meras reacções mecânicas, quando existem, em reacções planeadas, fazendo parte da normal gestão do município ou mesmo da freguesia. Naturalmente que essa dinâmica deverá ser impulsionada através da intervenção directa dos próprios cidadãos, pois é mais do que tempo de descruzarem os braços e se interessarem minimamente pela nossa terra.

José Gomes Ferreira
publicado por José às 09:56