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Quarta-feira, 26 / 04 / 06

Chernobyl 20 anos depois

Em jeito de sequência da notícia que escrevi para o Planalto e que constitui o meu último texto aqui deixo um breve comentário sobre os 20 anos passados da explosão no reactor de Chernobyl, quando subitamente para alguns a opção pela energia nuclear em Portugal é cada vez mais um desafio, não importam os riscos, não importam os custos para o país, não importam as consequências ambientais. Fica claro que nunca iremos saber qual o número de mortos em sequência da explosão do reactor da central ucraniana, nem o número de mortos nem de pessoas directamente e irremediavelmente afectadas.
Tudo isto numa altura em que um grupo de países que estão no top da produção de energia nuclear para uso civil e no top da produção de armamento nuclear querem evitar que o Irão faça parte do seu grupo. Sem querer defender o Irão, o melhor é eles arrumarem primeiro a casa.
publicado por José às 09:27
Terça-feira, 18 / 04 / 06

5 argumentos contra a instalação de centrais nucleares em Portugal (in Planalto Abril de 2006)

Parece que subitamente ninguém é contra a instalação de centrais nucleares no país. Se volto a esta questão é porque estou preocupado com a campanha que por cá se instalou e que, aliás, pode ter reflexos na nossa terra, basta lembrar que possuímos no subsolo o urânio para fazer trabalhar estas centrais, sem esquecer que a região pode ser também premiada com uma delas, aproveitando a água do Mondego e as infra-estruturas de distribuição de energia eléctrica, o que seria “ouro sobre azul” para os investidores. A partir deste enquadramento vou procurar em seguida apresentar em forma de questões alguns dos argumentos que os defensores da energia nuclear gostam de usar em seu proveito.

1.º A energia nuclear é a solução para a dependência energética do país? Este é um dos maiores disparates, até um leigo sabe que a nossa dependência energética não é em energia eléctrica, embora o país importe electricidade em anos de seca, ou acabe por queimar carvão, fuel ou gás natural para a obter. Em 1993 era a seguinte a distribuição de energia importada, por tipo de energia: petróleo 83%, carvão 18% e electricidade apenas 1%. Esta distribuição altera-se 10 anos depois com a introdução gradual do gás no país, para melhor se perceber esse efeito veja-se o gráfico sobre “Importação de energia, por tipo de energia, em 2003”.

Nova imagem (3).pngFonte: Direcção-Geral de Energia e Geologia

Por sua vez, em 1993 o consumo de energia por sectores de actividade tinha a seguinte distribuição: indústria 36%, transportes 32%, doméstico 19%, serviços 8% e agricultura 5%. O gráfico sobre o “Consumo de energia final por sector de actividade, em 2003” representa idêntica distribuição para o ano 2003.

Nova imagem (4).pngFonte: Direcção-Geral de Energia e Geologia

Podem os leitores achar estranho incluir estes gráficos num artigo no nosso Planalto, a questão é que através deles fica bem claro que o país é, sobretudo, deficitário em combustíveis fósseis, com o petróleo a ocupar o pódio. E fica bem claro que é o sector dos transportes a chamar a si a maior fatia de energia consumida. Em conclusão, claramente a solução para este problema não passa pela energia nuclear.
2.º A energia nuclear fica mais barata ao país? É totalmente falso, quem assim pensa ignora os factos: os custos de uma central nuclear não são apenas os custos de construção e manutenção, como uma central nuclear não desaparece quando é desactivada devem ser contabilizados nos custos totais os custos de desmantelamento. É bom que os portugueses entendam que não devem ser eles depois a arcar com essas despesas. E quem paga o “tratamento” dos resíduos, caso algum dia existam tecnologias de tratamento? Ou, então, quem paga o seu armazenamento em segurança? Ainda dentro da questão dos custos, curiosamente, nunca surgem contabilizados os custos da água utilizada no arrefecimento dos reactores, nem a qualidade da água devolvida, nem as condições em que é devolvida.
3.º A energia nuclear é uma energia limpa? Não passa pela cabeça de ninguém menosprezar o problema dos resíduos nucleares, que ainda hoje sem tecnologias de tratamento acabam por ficar armazenados no interior das centrais. No passado alguns destes resíduos foram depositados nas fossas abissais, do Oceano Atlântico ao Pacífico. Para quem não se lembra ou na sabe, na década de 80 a Espanha tentou enterrar o problema projectando a construção de um “cemitério nuclear” numa gruta em Aldeadavilla, próximo de Miranda do Douro, mas os protestos populares foram mais fortes.
4. A energia nuclear é uma energia segura? Acredito que o povo não é perito em energia nuclear, também acredito é que esse mesmo povo não seja parvo. Quem não se lembra de Chernobyl? Querem que se esqueça, mas ainda está presente. Pode ter sido um acidente motivado pela falta de manutenção da central, seja como for, não existem garantias de segurança credíveis, é verdade que as barragens podem ter rupturas, mas o alcance e a gravidade de um acidente nuclear não tem previsões possíveis. Já tivemos ou temos o rio Mondego radioactivo por causa das nossas minas, já tivemos ou temos o Tejo radioactivo por fugas nas centrais espanholas de Sayago I e Almaraz, isso já nos basta.
5.º A energia nuclear é o futuro? Não é, nem poderá ser, e se assim for, não cumpriremos as metas de produção de energia renovável estabelecidas no Protocolo de Quioto. Para que precisa um país do tamanho do nosso de energia nuclear? Queremos ter centrais nucleares para assumir uma ilusória modernidade, e muito se fala sobre isso; ao mesmo tempo, esquecemos as apostas na eficiência energética e esquecemos que somos um país cheio de recursos, temos sol, vento, mar, floresta ao abandono e resíduos desperdiçados. Assim estaríamos a investir em energia solar, marés e ondas, biomassa, biodiesel e muitas outras possibilidades.
Este é, basicamente, o cenário actual, resta saber, da nossa parte, o que estamos dispostos a fazer. Vamos ignorar que a construção de uma ou mais centrais nucleares no país, que pode até ser ao longo do Mondego, implica a reabertura das minas de urânio, ou seja, da Urgeiriça? É manifestando essa preocupação que aqui publico o meu testemunho. Felizmente acredito que esta euforia rapidamente se esgota, pois agora “todos” são a favor da energia nuclear, mas basta que sejam soprados os nomes das localidades onde possam vir a ser instaladas as centrais que logo o povo sai à rua para dizer: “Na nossa terra não”. Ninguém tem nos seus planos possuir uma central nuclear a uns metros do local onde vive, uma coisa é cada um defender uma causa distante, mas quando o diabo toca à porta logo muda o figurino. O problema é que o dinheiro convence muita gente e move mais gente ainda.

José Gomes Ferreira
publicado por José às 09:07
Quarta-feira, 05 / 04 / 06

Blitz ou kaput?

Por certo não é uma temática local, todavia não podia deixar de manifestar a minha triste perante o anúncio do fim do jornal Blitz, ao que parece vai transformar-se numa revista mensal, o que nada tem a ver com o espirito de uma publicação que atravessou as últimas gerações, ainda lembro bem os primeiros números e a loucura que era conseguir um exemplar. Lembro os tempos de tropa em que continuava a pedir no quiosque de Nelas para me guardarem o delicioso Blitz. Sei que tudo na vida tem um principio e um fim, mas o que mais custa é que a concentração dos media em Portugal é que dita esse fim, não a lógica da importância, apenas do lucro fácil. Assim, 22 anos depois, ainda jovem, vai a sepultar por estes dias, rezemos, é o que nos resta.
publicado por José às 09:14
Blog do Folhadal e de todo o concelho de Nelas

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